quarta-feira, junho 07, 2006
Feira do Livro
Não resisto a publicar na íntegra um post do Blog Tasca da Cultura!
A verdadeira Feira do Livro de Lisboa. Visitem o blog, tem outras pérolas.

"Fui mais o Júlio e a mulher dele (irmã da Marlene) à Feira do Livro de Lisboa! Saímos daqui da Lourinhã, no meu boguinhas, metemo-nos na A8 e foi sempre a abrir até lá chegarmos!Eles vão todos os anos lá, eu nunca tinha ido mas já tinha ouvido falar tanto na feira que estava mesmo ansioso, muito mais do que quando foi a feira das viagens Abreu. A primeira impressão que tive foi a mesma quando fui a Fátima com a minha mãe depois de acabar o curso.Aquilo parece a peregrinação das pessoas que lêem. A Marlene e o Júlio lêem e eu agora, graças a pessoas como a minha Marlene ou o Dan Brown, comecei a ler também e sinto-me parte da grande família, em comunhão com os outros peregrinos que vão pagar promessas. Ouvi alguns fiéis a dizer coisas como «este ano vou ler os livros que vou comprar» ou «a ver se levo qualquer coisa sem bonecos este ano» ou «tenho de perder 3 quilos até ao verão». E las pessoas levam os filhos, criançada pequena, há lá camiões e autocarros em forma de coisas divertidas, barracas cheias de jogos, balões e brinquedos, mas deve ser só para os chamar e atrair, depois devem ouvir cá com cada sermão sobre o dever de ler… Eu lembro-me que na missa em Fátima até me faltavam as forças nas pernas.Mas depois, quanto mais me aproximei das barraquinhas de lembranças das várias editoras vi que afinal tem mais a ver com aquela feira das medicinas alternativas e bruxarias, porque para além de uma editora chamada Difusora Bíblica ou Sociedade Bíblica de Portugal , também há Editora Espírita Fonte Viva, ou a Livros de Vida e muitas outras assim, com livros iguais aos que a minha avó colecciona da Planeta Agostini e do Riders Diggest.Fiquei um bocado espantado com isto e até sugeri ao Júlio que da próxima vez levássemos mais gente da Lourinhã, pois havia lá muito mais oferta de livros para eles do que no Continente.Comprei alguns:«Dominó: truques e dicas dos Samurais» (para o avô da Marlene), «Sudoku, 100 000 puzzles» (para a avó da Marlene), «A Morte não é o Fim» e «O segredo dos mortos-vivos» (para a minha avó que tem medo de morrer e precisa de esperança), «Como dominar o seu cão» (para a Virgínia Woof caso arranje namorado eh eh eh) e para mim comprei o «Couves e Alforrecas» porque me interesso muito por cozinha portuguesa mas não encontrei o Oregãos e Caracóis. Comi uma farturinha e depois fomos ao bar lá em cima e aí senti-me um pouco envergonhado porque estava toda gente tão à vontade que me senti assim deslocado, era o único que tinha comprado livros, parecia um totó. De repente, ao nosso lado, sentaram-se três pessoas, disseram-me que era o Pedro Mexia que também tem um blogue, a Clara Ferreira Alves e outro senhor que se calhar também tem um blogue e que iam apresentar um livro chamado "A Desgraça do Islão" ou "O Islão Não é o fim" ou "Como dominar o seu Islão", já não me lembro e sou capaz de estar a confundir com outros títulos, mas queria dizer o mesmo.O senhor Pedro Mexia tem um ar sossegado e distinto e estive para me apresentar e dizer «olá colega!» com uma grande palmada no ombro porque eu e ele somos colegas da blogosfera.A irmã da Marlene não se queria ir embora da mesa, não tirava os olhos dele, estava toda contente e o Júlio «anda Marlene, o que tens? Anda!» e ela quase hipnotizada, como aquela rapariga no filme do Dracula quando ele aparecia à janela na forma de morcego com os olhinhos em espiral. Lá fomos embora e a irmã da Marlene explicou-me que o Pedro MExia foi muito corajoso porque teve a coragem de dizer que não gostava do Saramago num programa da televisão. Eu perguntei ao Júlio se ele não tinha ciúmes mas ele estava demasiado entretido na barraquinha do Assírio e do Alvim que tinha uns senhores a atender que me lembraram os amigos da Marlene de Lisboa, todos de preto e a fumarem e com aquele ar de «não és digno de leres isso que me estás a comprar». O Júlio comprou uma edição toda de luxo das coisas do Fernado Pessoa mas ainda lá ficou a ver aquilo. Eu pedi-lhe o livro e fui fui comer mais uma farturinha, esta era melhor que a primeira que tinha comido, lá do outro lado. Feito parvo fui mexer nos livros do Fernando Pessoa com as mãos todas cheias de gordura e deixei imensas dedadas. Depois tive a brilhante ideia de achar que se deixasse dedadas com intervalos regulares, tipo com 5cm entre cada uma, parecia um padrão engraçado, como se fosse de origem. Só que já não deu tempo de fazer isto em todas as páginas do livro e quando ele veio ter comigo fechei o livro e assobiei a fingir que não era nada.Voltamos para a Lourinhã e fiquei muito stressado porque via pelo espelho retrovisor que o Júlio estava agarrado ao livro do Fernando Pessoa e eu sempre naquela de «ele vai abrir aquilo, ele vai ver as dedadas ai ai» mas depois não abriu. Disse que antes «ainda tem de ler o livro que comprou na feira do ano passado». Estou safo, diz isso todos os anos! :)
by def : 2:18 PM
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posted by George Cassiel @ 9:49 da manhã  
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"Este era un cuco que traballou durante trinta anos nun reloxo. Cando lle chegou a hora da xubilación, o cuco regresou ao bosque de onde partira. Farto de cantar as horas, as medias e os cuartos, no bosque unicamente cantaba unha vez ao ano: a primavera en punto." Carlos López, Minimaladas (Premio Merlín 2007)

«Dedico estas histórias aos camponeses que não abandonaram a terra, para encher os nossos olhos de flores na primavera» Tonino Guerra, Livro das Igrejas Abandonadas

 
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