segunda-feira, junho 05, 2006
Alexei Bueno
Na passada sexta-feira (2 de Junho), decorreu no Rio de Janeiro o lançamento do mais recente livro de Alexei Bueno: "Árvore Seca" (Editor: G. EMARKOFF Casa Editorial).


Um novo-grande-autor brasileiro cuja poesia descobri muito recentemente (e limitada a escassos, mas indiscutivelmente bons, "retalhos" da sua já extensa obra). Recomedo a leitura e a apressada edição em Portugal.
"Só pisando subimos,
Só derrotando vencemos,
Só conformando o outro a nós o amor nos alcança,
E tudo isso com sermos, seguramente sermos o outro
Até que nada nos reste de escapatória ou abrigo.
— E mesmo que venha o navio
Que seremos além de uma sombra na história dos astros?"
Alexei Bueno

SOBRE O AUTOR:
Alexei Bueno nasceu no Rio de Janeiro em 1963. Publicou, entre outros livros, As escadas da torre (1984), Poemas gregos (1985), Livro de haicais (1989), A decomposição de J. S. Bach (1989), Lucernário (1993 - Prêmio Alphonsus de Guimaraens e Prêmio da APCA), A via estreita (1995), A juventude dos deuses (1996), Entusiasmo (1997), Poemas reunidos (1998 - Prêmio Fernando Pessoa), Em sonho (1999), Os resistentes (2001), Gamboa (2002), para a coleção Cantos do Rio, O patrimônio construído (2002, com Augusto Carlos da Silva Teles e Lauro Cavalcanti – Prêmio Jabuti), Glauber Rocha, mais fortes são os poderes do povo! (2003) e Poesia reunida (2003 - Prêmio Jabuti).
Como editor organizou, para a Nova Aguilar, a Obra completa de Augusto dos Anjos (1994), a Obra completa de Mário de Sá-Carneiro (1995), a atualização da Obra completa de Cruz e Sousa (1995), a Obra reunida de Olavo Bilac (1996), a Poesia completa de Jorge de Lima e a Obra completa de Almada Negreiros (1997), a Poesia e prosa completas de Gonçalves Dias (1998), além da nova edição da Poesia completa e prosa de Vinicius de Moraes, no mesmo ano. Publicou, pela Nova Fronteira, uma edição comentada de Os Lusíadas (1993) e Grandes poemas do Romantismo brasileiro (1994). Traduziu para o português As quimeras, de Gérard de Nerval, editado pela Topbooks, também com edição portuguesa. Traduziu igualmente poemas de Poe, Longfellow, Mallarmé, Tasso e Leopardi, entre outros. Em 1998 publicou, pela Lacerda Editores, a primeira edição brasileira, prefaciada e anotada, da História trágico-marítima e uma edição dos Sonetos de Camões, além do ensaio introdutório e fixação do texto da Jerusalém libertada, de Torquato Tasso, pela Topbooks. Em 1999 organizou, com Alberto da Costa e Silva, a Antologia da poesia portuguesa contemporânea _ um panorama, para a Lacerda Editores, e no ano seguinte publicou a edição remodelada e definitiva da História das ruas do Rio, de Brasil Gerson. No ano de 2002 organizou, a convite da UNESCO, a Anthologie de la poésie romantique brésilienne, editada em Paris, e a Correspondência de Alphonsus de Guimaraens, para a Academia Brasileira de Letras. Em 2004 organizou a antologia Poesía brasileira hoxe, para a Editorial Danú, de Santiago de Compostela.
Colabora em diversos órgãos de imprensa no Brasil e no exterior, e foi, de 1999 a 2002, Diretor do INEPAC, Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, e membro do Conselho Estadual de Tombamento.


A propósito de Alexei Bueno, escreveu Paulo José Miranda:
(...)
"Alexei Bueno é um poeta lírico apaixonado pela praxis, pela acção na cidade. Sonha com acções políticas e actua sobre a linguagem. Talvez por isso mesmo é que a sua poesia, na esteira da tradição pindárica, seja mais política, mais preocupada com a cidade do que muitas das poéticas de pendor exuberantemente político."
(...)
"Através da poesia a linguagem faz com que tudo seja omnipresente. Estar entusiasmado é estar no centro do mundo, no centro do tempo, no centro dos deuses, onde tudo é, onde tudo não tem distância. “Os deuses querem passar por aqui.” É com este último e belo verso que o autor termina o seu livro A juventude dos deuses. Se a Grécia Antiga não existir agora na Lapa, nunca existiu. Se a Lapa não existiu na Grécia Antiga, não existe agora. Se o humano não vê isto, não existe, embora possa ir se arrastando a pouco e pouco para a cova.(...)"
Todo o texto aqui.

Paulo José Miranda teve a gentileza de ceder ao George Cassiel uma entrevista que realizou ao autor (no final do ano passado) e que aqui reproduzimos na íntegra:
"PAULO JOSÉ MIRANDA - Em que sentido a tradição assume para ti o centro da poesia, e não apenas da tua?
ALEXEI BUENO – Há muito tempo me afastei da ilusão do progresso, da evolução em coisas humanas. Sou um tanto schopenhauriano nisso, pessimista portanto. Ora, na medida em que me distancio desse belo sonho da perfectibilidade humana, o peso da continuidade torna-se muito sensível. Sob esse aspecto tudo é tradição, nossos três mil anos de poesia ocidental, o infinito prazer estético que encontro em Homero, coisa que já impressionava Marx, obviamente um partidário da perfectibilidade, etc. Com todas as infinitas alterações externas, o fundo para mim persevera, logo trabalhamos com a mesma matéria da tradição, tudo é tradição.

PJM - Julgas que a poesia brasileira vive um momento pujante? E esse momento tem territórios mais ou menos bem definidos, ou é extensivo a todo este imenso território?
AB – Há grandes nomes, muitas vezes pouco conhecidos ou injustiçados, mas não diria uma pujança. Pujança a poesia brasileira viveu em dois momentos, sem entrar no mérito de grandíssimos poetas isolados, no Romantismo e na maturidade do Modernismo, ou seja, em 1850-1870, e 1930-1960.

PJM - Em 1999 foste o responsável por uma antologia da poesia portuguesa, que conheces, não só a antiga, mas também a actual, como vês a poesia portuguesa neste momento? Julgas que há pontos de contacto entre as poéticas brasileiras e portuguesas, na última década?
AB – Não, perecem-me muito diferentes, o que até me espanta, talvez por Portugal ter vivido uma importante experiência surrealista, o que nunca aconteceu entre nós, país até hoje mentalmente dominado pelo positivismo mais tacanho, até na arte, e pela grande hegemonia do Concretismo no Brasil, uma espécie de máfia, de fascismo, durante a ditadura militar, mas com reflexos até hoje. Eu, pessoalmente, me sinto muito ligado à poesia portuguesa, mas sou um tipo sui generis.

PJM - Qual a tua relação com as poéticas dos países vizinhos, de língua castelhana? Neste momento, como as avalias? E, em geral, o Brasil tem boas relações poéticas com esses países?
AB – A literatura hispano-americana é riquíssima, na prosa e na poesia, que aprecio muito, mas o desconhecimento é total entre o Brasil e os países hispânicos e vice-versa. No seu livro de memórias, Mon dernier soupir, Buñuel fala de Portugal como aquele país que parecia aos espanhóis mais distante que a China. Posso dizer que isso
se reproduziu na América do Sul, com um país único que fala português virado para o Atlântico, e uma grande variedade de países (como no fundo é a Espanha) falando castelhano e fazendo fronteira com ele, mas como se estivessem do outro lado do mundo.

PJM - Neste momento, o Brasil vive um momento político bastante conturbado. Como vês essa situação? De que modo este momento político pode ajudar ou prejudicar a poesia, em particular, e as artes, em geral?
AB – A esquerda brasileira é, ao que tudo indica, a pior do mundo, a mais incompetente, a mais despreparada. O Brasil caiu no obreirismo, essa coisa que Lenine já condenava, e elegeu como presidente um ex-operário semianalfabeto – no qual, como bom imbecil, eu também votei – o qual, além de criar o maior esquema de corrupção da história da república, faz o governo mais sordidamente de direita que aqui já se viu, incluindo os generais. Para a poesia isso não afeta nada, o espírito sopra quando quer, mas a situação de patrimônio histórico, por exemplo, com esse governo ultra-neo-liberal, está dramática.

PJM - Poesia e Brasil têm o mesmo destino?
AB – Para o bem da poesia, espero que não..."


ALGUNS LINKS:
Alexei Bueno entrevistado por Rodrigo de Souza Leão.
Mais informação: Aqui.
posted by George Cassiel @ 5:42 da tarde  
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"Este era un cuco que traballou durante trinta anos nun reloxo. Cando lle chegou a hora da xubilación, o cuco regresou ao bosque de onde partira. Farto de cantar as horas, as medias e os cuartos, no bosque unicamente cantaba unha vez ao ano: a primavera en punto." Carlos López, Minimaladas (Premio Merlín 2007)

«Dedico estas histórias aos camponeses que não abandonaram a terra, para encher os nossos olhos de flores na primavera» Tonino Guerra, Livro das Igrejas Abandonadas

 
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