terça-feira, março 21, 2006
No dia mundial da poesia
uma prenda da Silvia Chueire:

cresce-me das mãos

cresce-me das mãos o poema.
não sei bem como acontece
a transformação do olhar
num oceano de interrogações
sobre as pernas da vida.
onde nos levam?

as palavras nascendo
a carregarem-me o sonho,
a fazerem-me mais do que sou.
e sonho porque sou mulher,
porque sou humana sonho
e caminho entre a morte
e a paixão como se fossem terrenos conhecidos.
são estas palavras a surgirem-me das mãos,
esta loucura mansa
a desorientar-me.
já não sei se sou eu, se sou elas,
e me amedronto e rio e caminho pelas ruas
a cantar amorosamente.
a olhar ternamente as nuvens, as casas.
e apaixono-me pelo mundo,
e o dia levanta-se sem que a vida perceba.

vem a noite a invadir os corpos, as casas,
as casas precárias.
as vozes murmuram porque são sabem falar,
o amor é proibido para elas.
mas o poema sai-me das mãos,
diz bom dia ao meu amor
que já não sabe.
e dirá boa noite outra noite
nas linhas dos versos.

tenho pena das pessoas que não sabem
ver a palavra, esta invenção atual
e a sua antiquíssima existência.
tenho pena das pessoas que não vêem
o amor, a invenção dele a cada minuto.
sua história, remota como homens e mulheres
tenho pena das pessoas que não sabem o beijo
a cantar nas nossas bocas e línguas
a caminhar pelo corpo
e ressurgir nas mãos : poema
posted by George Cassiel @ 9:35 da tarde  
1 Comments:
  • At 4:06 da manhã, Blogger Silvia Chueire said…

    George,

    Obrigada. Muito. Ainda que o poema fosse apenas uma espécie de comunicação. Obrigada.

    Beijos,

    Silvia

     
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"Este era un cuco que traballou durante trinta anos nun reloxo. Cando lle chegou a hora da xubilación, o cuco regresou ao bosque de onde partira. Farto de cantar as horas, as medias e os cuartos, no bosque unicamente cantaba unha vez ao ano: a primavera en punto." Carlos López, Minimaladas (Premio Merlín 2007)

«Dedico estas histórias aos camponeses que não abandonaram a terra, para encher os nossos olhos de flores na primavera» Tonino Guerra, Livro das Igrejas Abandonadas

 
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