sexta-feira, novembro 12, 2004
Bibliotecas Públicas II
Continuando as provocações sobre este tema:

Diário de Notícias de 12/05/2003, Por Viale Moutinho

Com o advento das novas bibliotecas e Casas de Cultura nos municípios portugueses, surgiram duas novas classes de funcionários públicos com cobertura praticamente nacional: os bibliotecários e os animadores culturais com habilitação própria, empenhados em iniciativas articuladas sobretudo com as escolas. Em cada biblioteca, tarde ou cedo, aparecem uma ou mais estantes que são o chamado fundo local. Seja, ali se reúnem, aliás para mais rápida disponibilização, os livros sobre a terra e região, bem como pastas-arquivo com fotocópias de recortes de jornais e de outros livros com a mesma finalidade. Os alunos sabem que ali encontram materiais para os seus trabalhos. Pelo menos um ponto de partida. Aqui há uma conjugação que parece completa e ainda relacionada com as bibliotecas de escola _ as pontes cabem à imaginação de bibliotecários e professores. Porém, ainda outro dia ouvi de um moço, ostensivamente avesso à leitura, que o poderia encontrar a ler qualquer coisa na biblioteca a partir do dia em que visse para lá entrar um professor com a mesma finalidade. Precisava do exemplo e não sei se ele não teria razão. Há um esforço para a constituição e manutenção de bibliotecas municipais e escolares nem sempre compensado com a sua utilização regular. Pois, os professores queixam-se que os alunos não lêem, mas também não exibem o seu exemplo. E é pena.
Já os animadores culturais, muitas vezes em contacto com os bibliotecários, querem animar culturalmente a terra e projectam iniciativas, estas custeadas por uns cobres sacados à má fila a um vereador distraído. Inaugura-se uma exposição de autor de gabarito e a inauguração fica às moscas, assim como os dias que se lhe seguem. O mesmo quando se consegue o concurso deste ou daquele escritor ou cientista ou afim, que vai iluminar um pouco o ambiente e arejar cabeças com as suas palavras informadas. Às vezes, a casa está às moscas e gora-se ali mesmo o entusiasmo pela iniciativa. Ainda me recordo de um velho amigo meu, presidente da direcção de uma instituição cultural que, volta e meia, recebia ilustres personagens palrantes. Pois bem, após dois lamentáveis fiascos de público, negociou com um asilo que lhe mandasse os 30 rapazes mais velhos, engravatados e de fato. A moeda de troca era um empenho extraordinário junto das autoridades para conseguir instalações e subsídios! Recordo-me de ouvir um ilustre e bem conhecido medievalista catalão, Emílio Saez, congratular-se por no Porto o interesse pela época que ele estudava ser objecto de interesse de um tão nutrido grupo de jovens. No entanto, estranhava mais estarem todos de fato cinzento e usarem a cabeça rapada e cara tão triste!
Quero com isto dizer que, infelizmente, nos municípios escasseia o entusiasmo pelas acções culturais. Isto de um modo geral, que já vi iniciativas encherem casas na província como seria inimaginável nas metrópoles de Lisboa e Porto. São sempre diminutas elites que comparecem e há um que outro a suspirar, mal convencido: «Poucos, mas bons...» E tudo isto, porque não se fez a chamada revolução cultural das mentalidades, embora os instrumentos estivessem disponíveis. As feiras do livro multiplicam-se, mas a estratégia é outra, menos cultural, embora o não pareça...
posted by George Cassiel @ 5:14 da tarde  
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"Este era un cuco que traballou durante trinta anos nun reloxo. Cando lle chegou a hora da xubilación, o cuco regresou ao bosque de onde partira. Farto de cantar as horas, as medias e os cuartos, no bosque unicamente cantaba unha vez ao ano: a primavera en punto." Carlos López, Minimaladas (Premio Merlín 2007)

«Dedico estas histórias aos camponeses que não abandonaram a terra, para encher os nossos olhos de flores na primavera» Tonino Guerra, Livro das Igrejas Abandonadas

 
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