terça-feira, maio 16, 2006
A Sereníssima

TURNER
The Grand Canal, Venice, 1835

A propósito do livro, agora em mãos, escreveu João Céu e Silva, em 2005, no DN:

Reviver o passado em Veneza com manuscritos achados num sótão

Romances cujo pano de fundo são Veneza tornam-se preocupantes... Há os que passam a prova e os que ficam pelo caminho, porque é quase impossível tornar o óbvio interessante e a vulgaridade sublime. A Serenissima tem esse problema, uma beleza que - conforme se pode ver na reprodução aqui ao lado - é difícil melhorar face ao original. É claro que temos alguns exemplos de como as águas da laguna podem ensopar uma boa prosa. Aconteceu com Thomas Mann, com vários autores antes e bastantes depois.

Existe até um escrito que, ao lermos este Um Romance em Veneza, nos vem imediatamente à memória. São Os Manuscritos de Jeffrey Aspern, de Henry James, que a Relógio D'Água editou, em versão portuguesa, no ano de 1986.

Aí pode ler-se, no terceiro capítulo, algo assim "A nossa casa estava longe do centro, mas o pequeno canal era 'comme il faut'." E o texto continua desembocando num elogio à voz fraca da dama idosa que, no entanto, possuía um timbre que marcara os ouvidos de Jeffrey. O romance de James foi publicado em 1888 e relata o esforço de um crítico pouco escrupuloso que anda em busca de documentos (de quem dá nome ao livro), oferecendo-nos a interpretação da natureza humana, à luz do olhar americano sobre uma civilização europeia datada.

Neste volume recém-editado, o escritor Andrea di Robilant afasta-se bastante dessa construção - mas há sempre esse paralelismo presente - e o resultado que obtém ao longo de 251 páginas é tão brilhante como o livro antes referido. O que os assemelha é o suportar de todo um texto nas cartas que o seu pai descobrira no sótão de um velho palazzo veneziano e que foram trocadas entre um homem e uma mulher, apaixonados. Apesar de poder parecer existir alguma inverosimilhança neste cenário, a trama que sustenta a história é toda verdadeira e isso torna o desafio literário ainda mais forte. Mas o autor refaz o relato possível de um amor vivido em 1750, com base na correspondência encontrada e com recurso a uma exaustiva pesquisa. Tudo bem sucedido e veneziano...
posted by George Cassiel @ 4:11 da tarde  
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"Este era un cuco que traballou durante trinta anos nun reloxo. Cando lle chegou a hora da xubilación, o cuco regresou ao bosque de onde partira. Farto de cantar as horas, as medias e os cuartos, no bosque unicamente cantaba unha vez ao ano: a primavera en punto." Carlos López, Minimaladas (Premio Merlín 2007)

«Dedico estas histórias aos camponeses que não abandonaram a terra, para encher os nossos olhos de flores na primavera» Tonino Guerra, Livro das Igrejas Abandonadas

 
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