terça-feira, maio 18, 2004 |
Nascimento |
Os gritos continuavam, agora mais frequentes, fazendo perceber aos vizinhos, que tinham sido obrigados a acordar repentinamente, que a hora aproximava-se. As mulheres, experientes, já tinham tudo pronto e esperavam apenas que uma cabecita começasse a despontar por entre as pernas arqueadas da mãe, que agora gritava em surdina, envolta num suor espesso que a incomodava. Sem saber o que fazer, a rapariga deu por si a correr porta fora procurando um recanto que a abrigasse da imagem de sofrimento que a mãe lhe transmitia. Foi surpreendida por um "Anda cá, segura na minha mão", dito de uma forma calma e pouco normal para ser proferida por uma mulher em trabalho de parto. "Segura na minha mão e vais ver que não custa nada!"
- Lembras-te quando nasceu o Tio Torcato?
- Sim.
- Foi um choque, não foi?
- Não.
- Estás muito estranha, hoje!
- Estou cansada.
- Andas a trabalhar demais.
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posted by George Cassiel @ 12:48 da tarde |
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GEORGE CASSIEL
Um blog sobre literatura, autores, ideias e criação.
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"Este era un cuco que traballou durante trinta anos nun reloxo. Cando lle
chegou a hora da xubilación, o cuco regresou ao bosque de onde partira.
Farto de cantar as horas, as medias e os cuartos, no bosque unicamente
cantaba unha vez ao ano: a primavera en punto."
Carlos López, Minimaladas (Premio Merlín 2007)
«Dedico estas histórias aos camponeses que não abandonaram a terra, para encher os nossos olhos de flores na primavera»
Tonino Guerra, Livro das Igrejas Abandonadas |
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