Como surge tudo agora com tanta nitidez?! A clara nitidez da manhã. Agora surge tudo e percebo porque me tenho de guardar nos lugares onde se colocam as coisas que não quero perder. O tempo entrará por mim e deixar-me-á morrer lentamente, sem dor, como um ácido que corrói. Não restará mais nada, nem a tua memória que guardo. Só eu guardo. Uma raiz antiga sobressairá e novas árvores darão fruto. Mas nem eu, nem tuEstaremos para os colher. A espuma luminosa dos primeiros sonhos desaparecerá, e os sulcos do meu rosto também. Tu, então, deixarás de ser eterna, e o meu corpo regressará ao húmus. Fundir-nos-emos finalmente com tudo o resto. Nem memória, nem sonhos, nem vontades iniciais. Apenas, nada. Não há desejos antigos que possam sobreviver a este desaparecimento. Não há certezas que não se transformem em dúvidas. Não há leis que continuem eternas. Não há vida que não seja metamorfose. Por isso guardo, enquanto posso, a minha e a tua.
G. Cassiel |
É isso.
Um abraço grande,
Silvia