quarta-feira, março 28, 2007
MICROGRAMA (II)
Ainda ouço o eco dos meus sonhos, de umas vontades que se diluíram no tempo. Marcaram-me o rosto, sulcaram-me as mãos, e entranharam-se profundamente nas minhas entranhas, que se abriram em espuma de luz. Mas não se transformaram em vida. A voz que se ouve já não é a minha. A minha surge como se dissesse um segredo, vindo das profundezas da terra, dos sulcos do meu rosto que guardam as últimas vontades, os primeiros ecos da minha memória. Na noite em que bebi um veneno, queimei as mãos. Queimei-me com o ácido que transportava no bolso das calças, como se isso fosse uma atitude normal.

G. Cassiel
posted by George Cassiel @ 6:04 da tarde  
2 Comments:
  • At 6:25 da tarde, Blogger dizia ela baixinho said…

    «É mesmo isto que eu sinto e não era capaz de exprimir», não é?"

    muito, muito bom.

     
  • At 11:29 da tarde, Blogger Silvia Chueire said…

    É sempre como se fosse uma coisa normal quando nada mais é normal. A vida ajeita assim, estranhamente as coisas, pelo avesso.
    Gostei do texto.

    Um abraço,
    Silvia

     
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"Este era un cuco que traballou durante trinta anos nun reloxo. Cando lle chegou a hora da xubilación, o cuco regresou ao bosque de onde partira. Farto de cantar as horas, as medias e os cuartos, no bosque unicamente cantaba unha vez ao ano: a primavera en punto." Carlos López, Minimaladas (Premio Merlín 2007)

«Dedico estas histórias aos camponeses que não abandonaram a terra, para encher os nossos olhos de flores na primavera» Tonino Guerra, Livro das Igrejas Abandonadas

 
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