A minha sugestão para o desafio davidasecretadaspalavras.blogspot.com:
SILÊNCIO (que forma melhor de explicar a escolha do que ficcionando-a?!)
"... permaneci em silêncio (________). E então desisti. Abri o envelope cheio de selos, cheio de uma história que desconhecia e que me surpreendera na caixa do correio. Abri a proposta que me deixaria atónito por muito tempo, em silêncio, a olhar pela janela, para as árvores, e da janela para os papéis que vinham dentro do envelope, e dos papéis novamente para as árvores para lá da janela. Somos mais cruéis do que desumanos. Somos mais cruéis que desumanos. Somos a Besta. O anticristo. Somos todos a Morte. O frio saltitante da morte. Sacrificamo-nos a nós próprios, como se nos oferecessemos a um deus menor do Olimpo. Sacrificamos a simplicidade honesta da existência. Transformamo-nos e transformamos o mundo num palco de regras e limitações. Somos o nosso próprio carcereiro! A morte de nós mesmos. Num dos fragmentos. E eu?! Eu. Não sei porquê, mas senti uma repentina vontade de começar a ler aquilo tudo. (Poderia começar assim a minha justificação, o meu acto de contrição! O tema da involuntariedade é recorrente na literatura, não é? O herói, e muitos nem o chegaram a ser, começa sempre por um acto involuntário: uma ida a um café a que nunca fora; um percurso pelo cemitério; aceitar um convite que à partida estaria recusado. É muitas vezes assim: abrimos um livro e lá está o homem, prontinho para nós escarrapachado! E o narrador, inteligente como tudo, entra-lhe na cabeça... sabe tudo o que ele pensa... mesmo no silêncio!
Saí e abandonei-me num passeio sem destino pelas ruas do bairro que envolve a minha casa, triturando e fazendo crepitar as folhas secas que caíam das árvores, como fazia em criança naquela terra que fora dos meus pais, naquele fim do mundo, naquele buraco onde me fizeram nascer, passeei sem destino apertando firmemente a folha amarrotada que trazia no bolso das calças, e desses minutos, duas horas talvez, nada, apenas______o vazio. Silêncio." O silêncio é essa maior simplicidade honesta da existência.
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