segunda-feira, maio 05, 2008 |
Regresso ao cais |
no marítimo lodo da fala fazem ninho pássaros de sal com suas asas afiadas sulcam o susto de ficar sozinho e a cabeça sibilante de uma libélula esvoaça na visão dourada do sonho o tempo circular dos dedos no corpo as mãos em movimento de esquecidos barcos sobre vagas de poalha estelar onde naufragam as palavras sem nexo e repetidos gestos devasso percursos de entorpecidas praias algures no estilhaço rubro dos mapas abandono o que amei já não tem importância e regresso ao isolamento onde a treva se enche de segredos e a voz do mar acorda o dormente coração do adolescente marinheiro que partiu para morrer
o sonho agarra-se ao sarro das velas e a alba fustiga os vidros da janela onde encostei a cara para chorar como as glicínias regresso ao cais com este lamento ao leme os pulsos cansados pelo brilho cortante do sal aceso no vento que transporta e agita as silentes sombras de feras longínquas e perfura o sono e a gestação fantástica dos lírios
magoadas águas reflectindo cicatrizes lancinantes de néons o cais por fim o cais onde desembarcamos e de nossos corpos não nos lembraremos mais
Al Berto
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posted by George Cassiel @ 11:51 da manhã |
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GEORGE CASSIEL
Um blog sobre literatura, autores, ideias e criação.
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"Este era un cuco que traballou durante trinta anos nun reloxo. Cando lle
chegou a hora da xubilación, o cuco regresou ao bosque de onde partira.
Farto de cantar as horas, as medias e os cuartos, no bosque unicamente
cantaba unha vez ao ano: a primavera en punto."
Carlos López, Minimaladas (Premio Merlín 2007)
«Dedico estas histórias aos camponeses que não abandonaram a terra, para encher os nossos olhos de flores na primavera»
Tonino Guerra, Livro das Igrejas Abandonadas |
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