A Leitura... Admito não saber qual a verdadeira solução para este problema português… Apenas um entre muitos outros. Mas este preocupa-me especialmente. Tenho insistido repetidas vezes que uma das causas para este “défice” (importante, este!) de leitura está nas opções do nosso mercado editorial. Não acredito, não acredito mesmo, que se aumentem o número de leitores com Códigos Da Vinci, Templários, Opus, e Margaridas, e Bobones, e afins. Não é por se ultrapassarem as várias dezenas de milhar de exemplares vendidos que estamos a contribuir para a criação de novos leitores. Provavelmente os indefectíveis de Dan Brown nunca chegaram, nem chegarão, a ser leitores. Serão sempre incontestáveis apreciadores daquele género particular de escrita. Não se aproximarão nunca dos grandes autores universais. Dos clássicos.
Sei que o discurso contrário existe: “pelo menos pus os portugueses a ler!”. Mas a ler o quê? A si próprio(a)? Isso chega?
A pergunta é: que leitores queremos? Claro que as opções (excessivamente) comerciais das nossas editoras não podem ser a única justificação. Aliás, o sucesso da literatura light-comercial não é um fenómeno tipicamente português… e também temos editoras que não se rendem a esta tentação.
O que muda? Maior número de editoras que não se rendem, maior número de leitores exigentes, uma preocupação séria com a animação à leitura e a formação (desde início) de novos leitores, livrarias sérias e livreiros que não vendem livros como quem poderia estar a vender sapatos… planos nacionais da leitura?! Não sei! Mas certamente faltará muita coisa… e qualquer pequeno passo é um passo. Só não o é a escolha que as editoras fizeram para os destaques nos stands das Feiras do Livro (com honrosas e já habituais excepções). Assim não criamos leitores exigentes neste país.
Mas quem está atento a isto? Importará estar atento? Servirão a APEL e a UEP para mais do que promover a venda de textos impressos (com qualidade ou não!). E o IPLB?
Será necessário introduzir entidades reguladoras? Julgo que não. Na leitura não há soluções impostas. Pode haver, isso sim, vontades “agregadoras” e desafios assumidos por todos os agentes (editores, autores, leitores, decisores). Ou é prioridade e se reconhece que a leitura serve para alguma coisa... ou então... vamos cantando e rindo.
Francisco José Viegas escrevia recentemente: "Distingo, aí, algumas vozes a chamarem-me reaccionário", a propósito da importância da leitura dos clássicos. Reaccionário?! Elitista?! Se quiserem, mas quem renega o discurso das elites, ou as próprias elites, acaba por destruir tudo o resto. |
Compreendo perfeitamente o seu descontentamento, mas a indústria editorial é, como o nome indica, uma indústria cujo objecto principal é a realização de lucro.
Se se tratasse de uma outra área, como a venda de automóveis, todos achariam bem, mas como são livros, gera-se descontentamento.
Como alterar a situação?
Desconhecemos, mas os editores não podem ser considerados responsáveis por fazerem aquilo que compete a qualquer empresa, ganhar dinheiro.
Cabe ao público, às associações e ao Estado zelar pelo interesse da sociedade, os editores podem somente ajudar, ou actuar enquanto indivíduos, mas sem que isso prejudique os objectivos da empresa, senão, por que se editaria?
O que uma editora deve fazer é zelar pela qualidade do que produz (editorial e gráfica) e responder às necessidades dos consumidores, sejam eles de alta ou baixa literacia.
O facto do mercado estar como está (pode ler imenso na Extratexto sobre mercado editorial) deve-se a inúmeros factores próprios das indústrias culturais (também nos queixamos da TVI, certo?). E não é verdade que se publica somente esse tipo de livros, será mais correcto dizer que esses são os livros mais visíveis no mercado porque o mercado está cada vez menos interessado em ter livros que não se vendam.
Mas que os há, há. Muitos e bons.
Saudações,
Nuno Seabra Lopes